Nesta edição o bate papo foi com Augusto Miranda. Augusto é uma incrível pessoa com um espírito artístico fantástico, cantou em algumas bandas como O Mito da Caverna e Massacre em alphaville e desenha como ninguém, fez diversas capas de discos, artes para camisetas, ilustrações diversas…conheça um pouco de suas ideias e um pouco mais do seu trabalho.
Bom, fico meio sem palavras precisas pra demonstrar a alegria de estar nessa entrevista com vocês da NGNM! Nem é de agora que estamos juntos em diversos trabalhos, essa conversa aqui, pra mim, meio que vem coroar nossas etapas até esse ponto!
1. COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DAS SUAS PRODUÇÕES PARA A COMUNIDADE EM QUE VOCÊ ESTÁ INSERIDO?
hmm… olha só, acho que a coisa mais justa MESMO a fazer é focar na importância que eles vêm tendo pra mim, entende? Isso, pra evitar cair em qualquer prepotência!
Tanto nas bandas em que participei, quanto com as ilustrações – que têm sido um de meus maiores momentos até aqui, é minha visão de mundo, o que aceito e quero produzir, entende?
Por muitas vezes os trabalhos não são “diretamente panfletários”, contudo, nem saberia te dizer se veria algo criado das minhas mãos reforçando aqueles padrões básicos de mercado, do tipo que reforça o “eixão” de galã de hollywood ou de novela das oito (A saber: “Homem-Hétero-Branco-Classe Média-Meia Idade-Cristão”); não tenho interesse em me dedicar a algo que contribua com mais piadinha ou seja lá o que for que rebaixe a homossexualidade, a figura feminina, as etnias que tão sempre postas abaixo do “eixão” e mais coisas assim… Na verdade mesmo, acho incrível quando tropeço em gente envolvida com o meio underground dando dessas! Porque pra isso, pra atacar etnias, promover a violência contra homossexuais, rebaixar a figura feminina, já temos a bíblia há tanto tempo (E ela vem dando tão certo nessas tarefas!)
Não gosto desse lance de “Arte pela arte”, sabe? É um dos pontos em que me sinto meio frustrado com o que produzo. ALGUÉM PRECISA SAIR MACHUCADO com o que a gente produz! Não sinto que eu venha tendo o sucesso que gostaria com isso…
Acho que essa deve ou deveria ser a importância do que produzo, viu… Questionar, trazer luz sobre esses casos de dominação, de poder, de violação…
2. ACHA A EXISTÊNCIA DESTA COMUNIDADE ESSENCIAL? PORQUE?
Bom, embora a coisa toda do punk (seja lá quais forem as vertentes) ainda grite dentro das minhas células, minha “identificação-mor” está nesses circuitos periféricos, sabe…? A coisa da Senhora Maria e Senhor José na lida cotidiana – creio que uma das razões de ter ingressado na coisa toda da área da Educação tem bem a ver com isso!
Assumo mesmo, não ponho fé em revolução armada, não nuns dias tontos feito esses em que o capitalismo incutiu vícios complicadíssimos nas gentes. Se houver algum revolução, ela vai acontecer por vias educativas. Seja com a gente infestando cada sala de aula, cada página na internet, cada porão com artes sonoras e visuais, cada setor de cada empresa…De resto, só seríamos (somos?) como os povos das regiões de fronteiras descritas por Orwell no “84”, que mal sabiam qual era o novo senhor que tinham então…
Considerando a teimosia em não se desintegrar em seu espírito e seu corpo, considerando a personalidade forte, vigorosa desses povos periféricos (que gestam dentro de si TODAS AS CULTURAS e formas de socialização e expressão!) já nem diria que são “essenciais”, mas diria que são “ESSÊNCIA”! São o motivo em si pra tudo e são a ferramenta pra justificar esses motivos.
3. COMO VOCÊ ENVOLVE O SEU PROJETO, AS SUAS PRODUÇÕES, NO SEU COTIDIANO, NA SUA VIDA?
Quanto às bandas e que passei, muito obviamente não haveriam modos de lucrar dinheiro com elas (hahahahah) nem nunca houve a menor pretensão! Também não são, não foram mero hobby. Tem “aquele algo” que parece só passar por esse canal, sabe..? (de certo vocês da NGNM sabem bem! hahahahaha) – Só isso explica como gente feito eu, sem musicalidade alguma se meteu nisso tudo….
Quanto às ilustras, hoje elas estão bem mais presentes em meu cotidiano, e já bem vinculadas nesse nosso underground “tão querido e tão odiado”. Foram cerca de dez anos ilustrando, diagramando na faixa mesmo e abrindo o jogo: Queria muito poder continuar assim, mas enfim consigo pagar algumas contas com o tempo em que me dedico sobre o papel! Claro, não chove grana – não mesmo, na verdade, tenho vivido no volume morto (“hahaha”) – mas ser dono do meu horário, meu ofício, meu TUDO é indescritível! Sérião! (costumo brincar de modo bem ácido que “não preciso mais de patrão pra passar fome, já passo fome por conta própria”)
Bem legal tem sido poder também entrar em alguns projetos de caráter mais voluntário mesmo, poder auxiliar algumas causas com esse meu pouco que sei e consigo fazer; poder me custear assumindo a parte criativa de lançamentos sem ter que ferir aqueles princípios mais pessoais que mencionamos ali em cima! E mais ainda: Só entrar de cabeça em trabalhos que reforcem essas nossas crenças!
4. VOCÊ ACHA IMPORTANTE IR ALÉM DO PUNK/HARDCORE/ANARQUISMO E CHEGAR COM SUAS IDEIAS PARA OUTRAS PESSOAS?
Eu nem acho importante, viu…
Acho ESSENCIAL! Fatalmente nossas ideias mais preciosas de apoio mútuo vão se sufocar, como acontece de fato, se não levarmos elas pra germinarem em outros cantos. Dentro da mesma panela, difícil de essas ideias expandirem bem suas raízes, tem que sair dali…
Sabe que eu fico pensativo aqui e agora, se não foi por coisa assim que de repente, lá bem atrás, não tivemos redes tipo a c&a fazendo uso da cara de “malvadão” do punk pra lucrar desgraçadamente numa cooptação monstruosa… Na medida em que havia sim um certo fechamento (mas não generalizado), ele não pôde se apresentar, o punk não pôde apresentar suas ideias mais caras de horizontalidade, de autonomia, de apoio mútuo… Bom, fico aqui com a divagação.
5. QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PLANOS?
Olha, enfim ingressei em uma faculdade de Artes Visuais (licenciatura!) pra poder vincular essa produção mais pessoal com o que podemos produzir junto a alunada, saca? Claro, é uma faculdade bosta mesmo que seja dotada de professores maravilhosos (mas é melhor nem entrar em detalhes aqui, pois nós entraríamos pela vereda de toda a problemática “setor privado versus setor público” e pra quem está destinada a maioria das vagas desse segundo e também a eficácia da grade curricular e mais uma porrada de outras coisas…), mas o que quero mesmo é o aval seja lá qual for pra estar efetivamente dentro de sala de aula com eles e com esse tema pra trabalharmos!
Isso aí, bom frisar, vai me pôr trabalhado umas 29 horas por dia, mas ao menos será em cima dos dois afazeres que mais amo nessa vida 🙂 (Claro, se der certo! Pode muito bem não dar! rs)
Gente, eu sou do tipo de aluno mala, colado em mesa de professor, sacam? (o que deve ser assustador pra eles, né… alguém de mais de dois metros e com tatuagens horrorosas colado em você não é lá muito tranquilizador, rs) Quero e espero mesmo aprender o máximo possível de coisas e somar com algumas oficinas e demais relacionados, pra, além do que vou obtendo com meus estudos e pesquisas pessoais, poder render cada vez mais nessas duas áreas pra onde essa coisa do punk me atirou sem retorno:
Lecionando e Ilustrando!