Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 07

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 07

João Paulo Rangel, mais conhecido como XJoãozinhoX, morador do mundo, mas situado em Salvador, baterista de bandas como Lumpen e Escato entre tantas outras, cozinheiro, amigo e mais um monte de coisa gostosa. Quer saber mais? Vamos lá!

1. Como você vê a importância das suas produções para a comunidade em que você está inserida?

O projeto do qual faço parte, é uma cooperativa de alimentação Vegana, Rango Vegan. Estamos localizadas no bairro do Santo Antônio, Pelourinho. Bairro conhecido por ser uma região de produção cultural. A Rango Vegan tenta promover o veganismo, oferecendo uma alimentação saudável, saborosa e acessível economicamente. Promovemos eventos como shows, oficinas de culinária, bazar, exibição de documentários, palestras e debates.

2. Acha a existência desta comunidade essencial? Porque?

Sim, pela manutenção da cultura, da arte local e do comércio, que é a fonte de renda de muitas pessoas da região. Além da promoção do veganismo.

3. Como você envolve o seu projeto, as suas produções, no seu cotidiano, na sua vida?

A Rango, sempre foi mais do que apenas um trabalho, uma fonte de renda. Ela esta diretamente ligada a ideais que acredito e vivo como, veganismo, anarquismo, cooperativismo. Pra mim, trabalhar fornecendo quentinhas delivery, vai muito além do que levar uma refeição para um cliente, pra mim, cada quentinha que chega a determinada pessoa, é menos sofrimento animal e mais saúde.

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4. Você acha importante ir além do punk/hardcore/anarquismo e chegar com suas ideias para outras pessoas?

Sim, esse é um dos propósitos da RV, levar o veganismo ao maior número possível de pessoas, de forma solidaria e justa. Levando em consideração que grande maioria dos nossos clientes não são veganos ou vegetarianos. E outros se tornaram em contato com a RV.

5. Quais são os próximos planos? Envie-nos link de fotos e um video que acha legal.

Além de continuar com a RV, toco bateria em duas bandas, uma banda instrumental de rock, formada na cozinha da RV (Culinária Guerrilha) e um projeto de MPB, além da formação em kung fu e ser feliz!

Para mudar tudo, comece por todos os lugares.

Para mudar tudo, comece por todos os lugares.

Mudanças climáticas, escassez de água, crises econômicas que ameaçam nossos empregos já instáveis e precários, bem como nosso acesso a alimento, saúde e moradia: a ordem dominante é insustentável em todas as suas formas. Até mesmo os seus maiores representantes, como a mídia, políticos e empresários, admitem que são necessárias mudanças radicais. Mas por que deveríamos pedir ou esperar que essas autoridade tomem a iniciativa?

O que seria, realmente, mudar tudo? Como escolheremos caminhos diferentes?

O projeto “Para Mudar Tudo” tem como objetivo a propaganda das pensamentos e valores libertários e radicais para pessoas que ainda não tiveram contato com essas ideias ou práticas mas que mesmo assim sentem que precisamos resistir à ordem política vigente. Ele conta com um texto introdutório ao pensamento anarquista e em linguagem acessível, levado ao público por diferentes formatos: 4 mil cópias de uma revista impressa com cerca de 50 páginas, uma versão em pdf para download, uma versão em vídeo do mesmo texto com cerca de 8 minutos para circulação na internet, posters e adesivos para serem difundidos nas ruas, espaços libertários, centros sociais, ou mesmo pregado nos quartos de jovens rebeldes. Tudo isso reunido em um site para download gratuito e livre difusão.

Todo o projeto – vídeo, texto, site – foi produzido e adaptado para cerca de 14 idiomas por coletivos locais de cada país para ser lançado ao mesmo tempo nos 5 continentes e propagar o caráter sem fronteiras e cooperativo do anarquismo. Cada versão foi devidamente também adaptada ou reescrita pelos coletivos locais para usada como plataforma de diálogo com indivíduos e iniciativas de cada região. Então, com exemplos, contextos, imagens e linguagens, tentamos falar da nossa realidade e propor formas de resistir às opressões existentes nela. Para conhecer as outras versões, acesse: www.tochangeeverything.com

O site do Para Mudar tudo tem como proposta servir de introdução a pensamentos e ações libertárias e te colocar em contato com grupos e pessoas agindo – ou que aspiram agir – para resistir e transformar a realidade em que vivemos.

Aproveite o conteúdo do site e escreva para distribuir os livretos em sua cidade e comunidade. Entre: paramudartudo.com.

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 06

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 06

Punk, tatuadora, escritora, editora, zineira, anarquista, feminista, isto é um pouco de quem é Marina e sua vida rodeada e misturada com tantos projetos e realizações. Vamos se inspirar um pouco?

1. Como você vê a importância das suas produções para a comunidade em que você está inserida?

Bom, eu parto da ideia de que todas as produções, ações e intervenções das pessoas em uma comunidade tem uma grande importância pros rumos que essa mesma comunidade segue – rumos que nem sempre são bons, obviamente. Mas dentro disso, sempre procuro pensar em projetos que contribuam para mudanças, questionamentos que considero pertinentes e que sejam relevantes pras nossas lutas mais amplas – que não se resumem a comunidade em si. Acho que no fim das contas é essa soma de produções, criações e ideias fervilhando que são importantes pra manter vivas nossas comunidades de resistência. Então os projetos que me envolvo são uma contribuição dentro dessas iniciativas todas.
Metade da minha vida foi inteiramente voltada a criar e produzir coisas dentro da comunidade anarcopunk/anarquista. Atualmente tenho um projeto que chama Imprensa Marginal (uma editora e distro anarcopunk que também faz algumas oficinas de produção/encadernação de livros de tempos em tempos); tem a Anarco-Filmes Produções, um projeto de produção de documentários anarquistas e de divulgação das lutas sociais que sempre faz parcerias com outros projetos/coletivos de vídeo anarquista/popular/periférico; o Festival do Filme Anarquista e Punk de SP, que em dezembro vai ter a quarta edição; o site anarcopunk.org (que atualmente conta com participação de pessoas de cidades/estados/países diferentes); e fora isso sempre acabo me envolvendo em organização de atividades, debates, feiras de cultura punk, gigs, publicações, e outras conspirações não só anarcopunx/anarquistas/feministas/antifascistas, mas também com outros coletivos, movimentos, espaços e redes com quem rola um diálogo massa.

2. Acha a existência desta comunidade essencial? Porque?

Eu entendo e vivo a cena punk/anarquista como uma comunidade – onde interação, participação, diálogo, respeito, etc. são extremamente importantes. Mas muitas vezes acaba existindo nesta mesma cena uma lógica que tenta tornar isso tudo apenas um meio de consumo em que as pessoas assumem o papel de consumidores ou expectadores de algo – perdendo qualquer envolvimento mais real nos rumos e na construção coletiva dessa comunidade. Por isso acho importante que cada vez mais a gente caminhe para a formação e fortificação dessas comunidades e redes de contatos, ações e intercâmbios – que possam fortalecer formas de vida, convivência, relação e luta de uma perspectiva libertária, feminista, anti-autoritária e anti-capitalista. Passar a nos ver enquanto comunidade é algo essencial também para que possamos construir formas concretas de responsabilização e desconstrução de todos os valores sociais que questionamos. Se somos todxs parte de uma mesma comunidade, as ações e posicionamentos de cada uma das pessoas é essencial para os rumos que seguimos.

3. Como você envolve o seu projeto, as suas produções, no seu cotidiano, na sua vida?

Na verdade não consigo dividir os meus projetos e produções da vida cotidiana, porque essas duas coisas caminham inteiramente grudadas – são uma coisa só. Minha forma de viver, me organizar, trabalhar e me relacionar com as pessoas está totalmente ligada com as ideias políticas, culturais e projetos que tenho. Se busquei, por exemplo, uma forma de trabalhar e me sustentar que me dá autonomia em diversos sentidos (no meu caso a tatuagem), e me permite organizar por mim mesma o tempo que tenho no cotidiano pra poder levar adiante meus projetos punks/anarquistas, isso é um reflexo direto da forma como vejo o mundo e dos próprios projetos em si. Enfim… trabalho, relações, convivências, vida cotidiana, produções anarcopunks/anarquistas, coletivos, organizações, projetos, amizades, etc. são todos pontos que seguem interligados, influenciando uns aos outros todo o tempo.

4. Você acha importante ir além do punk/hardcore/anarquismo e chegar com suas ideias para outras pessoas?

Sim, acho que isso é essencial. Por mais confortável que seja criar uma “bolha” onde teoricamente as pessoas pensam, agem e tem gostos/posicionamentos mais parecidos – o que na prática a gente sabe que não é bem assim – é extremamente importante que a gente consiga romper essa “bolha” punk/anarquista e seguir para além. Se nos fechamos nessa bolha como um fim em si mesmo, todos os nossos questionamentos, iniciativas e lutas acabam igualmente sendo um fim em si mesmas, e bom… a ideia não é essa, né? E esse embate de visões de mundo é muito importante, nos leva pra rumos mais livres e diversos, afinal a ideia nunca foi criar um mundo unicamente punk ou anarquista, e sim provocar diálogos e construções coletivas mais amplas baseadas em liberdade, anti-autoritarismo, horizontalidade, etc.

5. Quais são os próximos planos? Envie-nos link de fotos e um video que acha legal.

Estou em um momento de rever muitas coisas na vida e nos projetos que faço parte, e esse processo tem sido bem importante pra mim, embora por outro lado deixe algumas coisas mais confusas e estranhas por um tempo. Mas bom, no momento estou filmando entrevistas pra um documentário que há anos estou organizando, sobre a história do movimento anarcopunk no Brasil dos anos 90 – que por ser um projeto muito grande vai acabar virando não um, mas vários pequenos documentários; conspirando novas publicações pra Imprensa Marginal, e outras ações coletivas.
Deixo aqui o link pro documentário sobre a Casa da Lagartixa Preta, que fiz em conjunto com a Do Morro Produções no ano passado:

E de fotos, o álbum da mana Elaine Campos, que sempre está por aí registrando as movidas feministas/anarquistas/punks com suas lentes – https://www.flickr.com/photos/elainecampos/albums

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 05

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 05

Nesta edição vamos conversar um pouco com o Nelsinho!! Uma pessoa incrível que ficamos mais próximos por esses tempos e já nos ensinou muita coisa, além de ter trazido muita inspiração. Sua dedicação e sua paixão pelo Hardcore encata qualquer um! Leia e inspire-se!

1. Como você vê a importância das suas produções para a comunidade em que você está inserido?

Vejo da forma magica que funciona o “Faça Você Mesmo”. Você vê as pessoas produzindo coisas usando apenas seu esforço e força de vontade para produzir. E que vão impactar ou não de maneira incrível a vida de terceiros. Assim como mudou a minha vida, tanto em exemplos negativos e positivos e tem sido assim na minha vida nos últimos 17 anos. Lembro muito bem que quando vi outras pessoas que não tinham dinheiro assim como eu, montando bandas punks, isso me inspirou a também ter uma banda, isso em 1999. Em 2001 eu via os E-zines fazendo um trabalho horroroso de jaba imitando a “midia considerada tradicional”, isso me motivou a montar meu próprio e-zine e fazer diferente durante 10 anos. Em 2003 quando eu fui na primeira Verdurada e aquilo explodiu minha cabeça, mudou minha forma de ver o mundo e de como ser punk. E eu nem imaginaria que 9 anos depois eu iria organizar o mesmo evento na minha região. Isso não é magico?

2. Acha a existência desta comunidade essencial? Porque?

Eu acho que os modos de vida alternativos são essenciais partindo do preceito de que não aceitem a vida que nos é imposta. Porque o sistema tem ao favor deles as mais diversas formas de manipulação. O estado, a mídia, as religiões e o próprio jogo politico faz de nós pessoas nascidas e criadas dentro das periferias inimigas de nossos iguais, o povo contra o povo. Escuto aqui nas ruas do meu bairro pessoas reclamando de cotas raciais e de programas sociais como bolsa família, pessoas defendendo e repetindo o discurso do patrão aos montes

3. Como você envolve o seu projeto, as suas produções, no seu cotidiano, na sua vida?

Bom o punk é minha principal escola, onde eu me encontrei e decidi que iria fazer dessas convicções minha vida. O “Hardcore Choice” acaba sendo um aprendizado de trocas de vivencias que se reflete nas letras das minhas bandas, escolha de caminhos a seguir e por ai vai. Assim como o “Faça você mesmo” é emponderador o punk também é.

4. Você acha importante ir além do punk/hardcore/anarquismo e chegar com suas ideias para outras pessoas?

Eu acho que sim. Num coletivo do qual participamos entre 2012 e 2013 realizamos um projeto com oficinas de Veganismo popular, bate papos sobre álcool e drogas e shows nas periferias mais extremas de Sorocaba, lugares muito parecidos dos quais vivi e vivo. Onde vivem pessoas que moram em lugares esquecidos pelo estado e por todos, o interesse de adultos e crianças e toda a vivência ali presenciada foi uma coisa muito forte motivadora. Mas muito além do que isso que fizemos, um outro exemplo são dois projetos que acontecem aqui em Sorocaba: o Girls Rock Camp Brasil e o Ladies Rock Camp Brasil que trabalham com a autoestima, solidariedade entre mulheres, emponderamento feminino e transformação social. Pra mim são a prova viva de que é importante e fundamental ir além.

5. Quais são os próximos planos?

Bom de momento estamos bastante focados em mais 2 projetos que eu gostaria de ressaltar: um é uma banda nova de Punk rock que juntou 2 Anarcopunks e 2 Punks Straight Edges e que se chama Absencers. Estamos depositando toda nossa energia nas composições e ensaios. O outro é um projeto de comida caseira vegana e acessível que é o “Vaquinha Feliz Comida Vegana” no qual pretendemos que seja um embrião para sermos cada vez mais independentes tornando tudo isso nossa vida em 24/7. No “Hardcore choice” queremos viver um dia de cada vez e entrevistar pessoas incríveis como foi até agora. Obrigado pelo espaço é uma honra poder contar um pouquinho de como nos sentimos para pessoas que admiramos tantos. Nos vemos nos shows.

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 04

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 04

O que dizer de uma pessoa que transpira inspiração? Nessa quarta edição da entrevista, Ellen fala sobre saúde, autonomia, feminismo, empoderamento e um plano mirabolante para acabar com o patriarcado. Essa pessoa incrível sempre tem muita coisa a dizer!!

1. COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DAS SUAS PRODUÇÕES PARA A COMUNIDADE EM QUE VOCÊ ESTÁ INSERIDA?

A Bruxaria Distro é o nome que dei a um projeto que já venho desenvolvendo há bastante tempo que tem a ver com despertar a reflexão sobre a autonomia da saúde e o que isso tem a ver com o sistema político que estamos inseridas. A importância disso está em trazer para um nível micro, íntimo e pessoal as revoluções e utopias que almejamos para nossa sociedade, ou seja, trazer para nosso cotidiano e vida prática novas formas de relação com nossos corpos, saúde e busca pela autonomia. Parece que soa um pouco ingênuo e careta dizer que precisamos conhecer nossos corpos e como cuidar deles como parte de uma construção política, mas faz parte da construção de uma sociedade livre e horizontal saber lidar com a saúde e manutenção de nossas próprias vidas. A visão que temos da saúde é construída e dominada pela instituição médica, que é patriarcal, branca e elitizada, e não cabe todas as formas de estar saudável.

2. ACHA A EXISTÊNCIA DESTA COMUNIDADE ESSENCIAL? PORQUE?

Sim, pois somente com uma comunidade forte podemos propor mudanças maiores e demonstrar que há outras formas completas e complexas de organização que pode dar certo. Além de ser nosso próprio campo de experienciar outras formas de relação com as pessoas, com o ambiente, com outros ciclos e formas de viver.

3. COMO VOCÊ ENVOLVE O SEU PROJETO, AS SUAS PRODUÇÕES, NO SEU COTIDIANO, NA SUA VIDA?

Atualmente estou terminando a graduação em Obstetrícia, que é uma faculdade que forma parteiras diplomadas. Relutei muitos anos em entrar numa instituição universitária para obter conhecimento, mas hoje vejo que fiz a escolha certa para ter acesso maior (mesmo que institucionalizado, burocratizado e até mesmo algumas vezes defasado) ao universo dos cuidados em saúde das mulheres, não somente no período da gestação e parto. Essa foi uma das possíveis formas que encontrei em me aprofundar num assunto que gosto e que possa trazer à vida prática de minha comunidade, a minha própria vida e à de mulheres que tenho contato em meu trabalho, o questionamento sobre saúde, autocuidado, machismo, racismo, homofobia, direitos sexuais e reprodutivos, aborto, etc. Ou seja, meu projeto político não está separado em nada do que faço, não vejo separação entre a distro, meu trabalho com saúde das mulheres, o coletivo que faço parte (Ativismo ABC/Casa da Lagartixa Preta), projetos que eventualmente apoio/participo (por exemplo, o Para Mudar Tudo).
Procuro fazer minhas produções e as produções que distribuo na Distro (materiais de saúde feminina, zines, livros) chegarem para fora de nosso círculo de convivência também, para dialogar com o máximo de pessoas possíveis.

4. VOCÊ ACHA IMPORTANTE IR ALÉM DO PUNK/HARDCORE/ANARQUISMO E CHEGAR COM SUAS IDEIAS PARA OUTRAS PESSOAS?

Com absoluta certeza sim, e é justamente o que tento fazer. Reconheço que algumas questões ainda devam ser mais específicas no debate “interno” deste círculo, inclusive porque temos uma comunicação e interação muito ruim, muito fraca entre os grupos e espaços, que muitas vezes nem sabem da existência do outro, o que fazem, como vivem, suas propostas, suas práticas. Acredito que ambas coisas devem ser feitas ao mesmo tempo: trabalhar para expandir o debate e debater “entre nós” (com muitas aspas hehehe) sobre objetivos comuns que existam.

5. QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PLANOS?

Estou planejando lançar na Feira do Livro Feminista de Porto Alegre, em outubro/novembro, dois fanzines sobre saúde, finalizar os últimos retoques do meu site que tem uma biblioteca online, blog, relatos de experiências, loja online, que foi muito suado para fazer (sem a ajuda da querida Andreza da No Gods, não estaria pronto de jeito nenhum), e finalmente organizar algumas oficinas para oferecer em qualquer lugar que queira receber/trocar!
Ah, e acabar com o patriarcado.

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 03

Que as nossas palavras tomem nossos corpos e mentes – n. 03

Nesta edição o bate papo foi com Augusto Miranda. Augusto é uma incrível pessoa com um espírito artístico fantástico, cantou em algumas bandas como O Mito da Caverna e Massacre em alphaville e desenha como ninguém, fez diversas capas de discos, artes para camisetas, ilustrações diversas…conheça um pouco de suas ideias e um pouco mais do seu trabalho.

Bom, fico meio sem palavras precisas pra demonstrar a alegria de estar nessa entrevista com vocês da NGNM! Nem é de agora que estamos juntos em diversos trabalhos, essa conversa aqui, pra mim, meio que vem coroar nossas etapas até esse ponto!

1. COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DAS SUAS PRODUÇÕES PARA A COMUNIDADE EM QUE VOCÊ ESTÁ INSERIDO?

hmm… olha só, acho que a coisa mais justa MESMO a fazer é focar na importância que eles vêm tendo pra mim, entende? Isso, pra evitar cair em qualquer prepotência!
Tanto nas bandas em que participei, quanto com as ilustrações – que têm sido um de meus maiores momentos até aqui, é minha visão de mundo, o que aceito e quero produzir, entende?
Por muitas vezes os trabalhos não são “diretamente panfletários”, contudo, nem saberia te dizer se veria algo criado das minhas mãos reforçando aqueles padrões básicos de mercado, do tipo que reforça o “eixão” de galã de hollywood ou de novela das oito (A saber: “Homem-Hétero-Branco-Classe Média-Meia Idade-Cristão”); não tenho interesse em me dedicar a algo que contribua com mais piadinha ou seja lá o que for que rebaixe a homossexualidade, a figura feminina, as etnias que tão sempre postas abaixo do “eixão” e mais coisas assim… Na verdade mesmo, acho incrível quando tropeço em gente envolvida com o meio underground dando dessas! Porque pra isso, pra atacar etnias, promover a violência contra homossexuais, rebaixar a figura feminina, já temos a bíblia há tanto tempo (E ela vem dando tão certo nessas tarefas!)
Não gosto desse lance de “Arte pela arte”, sabe? É um dos pontos em que me sinto meio frustrado com o que produzo. ALGUÉM PRECISA SAIR MACHUCADO com o que a gente produz! Não sinto que eu venha tendo o sucesso que gostaria com isso…
Acho que essa deve ou deveria ser a importância do que produzo, viu… Questionar, trazer luz sobre esses casos de dominação, de poder, de violação…

2. ACHA A EXISTÊNCIA DESTA COMUNIDADE ESSENCIAL? PORQUE?

Bom, embora a coisa toda do punk (seja lá quais forem as vertentes) ainda grite dentro das minhas células, minha “identificação-mor” está nesses circuitos periféricos, sabe…? A coisa da Senhora Maria e Senhor José na lida cotidiana – creio que uma das razões de ter ingressado na coisa toda da área da Educação tem bem a ver com isso!
Assumo mesmo, não ponho fé em revolução armada, não nuns dias tontos feito esses em que o capitalismo incutiu vícios complicadíssimos nas gentes. Se houver algum revolução, ela vai acontecer por vias educativas. Seja com a gente infestando cada sala de aula, cada página na internet, cada porão com artes sonoras e visuais, cada setor de cada empresa…De resto, só seríamos (somos?) como os povos das regiões de fronteiras descritas por Orwell no “84”, que mal sabiam qual era o novo senhor que tinham então…
Considerando a teimosia em não se desintegrar em seu espírito e seu corpo, considerando a personalidade forte, vigorosa desses povos periféricos (que gestam dentro de si TODAS AS CULTURAS e formas de socialização e expressão!) já nem diria que são “essenciais”, mas diria que são “ESSÊNCIA”! São o motivo em si pra tudo e são a ferramenta pra justificar esses motivos.

3. COMO VOCÊ ENVOLVE O SEU PROJETO, AS SUAS PRODUÇÕES, NO SEU COTIDIANO, NA SUA VIDA?

Quanto às bandas e que passei, muito obviamente não haveriam modos de lucrar dinheiro com elas (hahahahah) nem nunca houve a menor pretensão! Também não são, não foram mero hobby. Tem “aquele algo” que parece só passar por esse canal, sabe..? (de certo vocês da NGNM sabem bem! hahahahaha) – Só isso explica como gente feito eu, sem musicalidade alguma se meteu nisso tudo….
Quanto às ilustras, hoje elas estão bem mais presentes em meu cotidiano, e já bem vinculadas nesse nosso underground “tão querido e tão odiado”. Foram cerca de dez anos ilustrando, diagramando na faixa mesmo e abrindo o jogo: Queria muito poder continuar assim, mas enfim consigo pagar algumas contas com o tempo em que me dedico sobre o papel! Claro, não chove grana – não mesmo, na verdade, tenho vivido no volume morto (“hahaha”) – mas ser dono do meu horário, meu ofício, meu TUDO é indescritível! Sérião! (costumo brincar de modo bem ácido que “não preciso mais de patrão pra passar fome, já passo fome por conta própria”)
Bem legal tem sido poder também entrar em alguns projetos de caráter mais voluntário mesmo, poder auxiliar algumas causas com esse meu pouco que sei e consigo fazer; poder me custear assumindo a parte criativa de lançamentos sem ter que ferir aqueles princípios mais pessoais que mencionamos ali em cima! E mais ainda: Só entrar de cabeça em trabalhos que reforcem essas nossas crenças!

4. VOCÊ ACHA IMPORTANTE IR ALÉM DO PUNK/HARDCORE/ANARQUISMO E CHEGAR COM SUAS IDEIAS PARA OUTRAS PESSOAS?

Eu nem acho importante, viu…
Acho ESSENCIAL! Fatalmente nossas ideias mais preciosas de apoio mútuo vão se sufocar, como acontece de fato, se não levarmos elas pra germinarem em outros cantos. Dentro da mesma panela, difícil de essas ideias expandirem bem suas raízes, tem que sair dali…
Sabe que eu fico pensativo aqui e agora, se não foi por coisa assim que de repente, lá bem atrás, não tivemos redes tipo a c&a fazendo uso da cara de “malvadão” do punk pra lucrar desgraçadamente numa cooptação monstruosa… Na medida em que havia sim um certo fechamento (mas não generalizado), ele não pôde se apresentar, o punk não pôde apresentar suas ideias mais caras de horizontalidade, de autonomia, de apoio mútuo… Bom, fico aqui com a divagação.

5. QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PLANOS?

Olha, enfim ingressei em uma faculdade de Artes Visuais (licenciatura!) pra poder vincular essa produção mais pessoal com o que podemos produzir junto a alunada, saca? Claro, é uma faculdade bosta mesmo que seja dotada de professores maravilhosos (mas é melhor nem entrar em detalhes aqui, pois nós entraríamos pela vereda de toda a problemática “setor privado versus setor público” e pra quem está destinada a maioria das vagas desse segundo e também a eficácia da grade curricular e mais uma porrada de outras coisas…), mas o que quero mesmo é o aval seja lá qual for pra estar efetivamente dentro de sala de aula com eles e com esse tema pra trabalharmos!
Isso aí, bom frisar, vai me pôr trabalhado umas 29 horas por dia, mas ao menos será em cima dos dois afazeres que mais amo nessa vida 🙂 (Claro, se der certo! Pode muito bem não dar! rs)
Gente, eu sou do tipo de aluno mala, colado em mesa de professor, sacam? (o que deve ser assustador pra eles, né… alguém de mais de dois metros e com tatuagens horrorosas colado em você não é lá muito tranquilizador, rs) Quero e espero mesmo aprender o máximo possível de coisas e somar com algumas oficinas e demais relacionados, pra, além do que vou obtendo com meus estudos e pesquisas pessoais, poder render cada vez mais nessas duas áreas pra onde essa coisa do punk me atirou sem retorno:
Lecionando e Ilustrando!