O que dizer de uma pessoa que transpira inspiração? Nessa quarta edição da entrevista, Ellen fala sobre saúde, autonomia, feminismo, empoderamento e um plano mirabolante para acabar com o patriarcado. Essa pessoa incrível sempre tem muita coisa a dizer!!

1. COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DAS SUAS PRODUÇÕES PARA A COMUNIDADE EM QUE VOCÊ ESTÁ INSERIDA?

A Bruxaria Distro é o nome que dei a um projeto que já venho desenvolvendo há bastante tempo que tem a ver com despertar a reflexão sobre a autonomia da saúde e o que isso tem a ver com o sistema político que estamos inseridas. A importância disso está em trazer para um nível micro, íntimo e pessoal as revoluções e utopias que almejamos para nossa sociedade, ou seja, trazer para nosso cotidiano e vida prática novas formas de relação com nossos corpos, saúde e busca pela autonomia. Parece que soa um pouco ingênuo e careta dizer que precisamos conhecer nossos corpos e como cuidar deles como parte de uma construção política, mas faz parte da construção de uma sociedade livre e horizontal saber lidar com a saúde e manutenção de nossas próprias vidas. A visão que temos da saúde é construída e dominada pela instituição médica, que é patriarcal, branca e elitizada, e não cabe todas as formas de estar saudável.

2. ACHA A EXISTÊNCIA DESTA COMUNIDADE ESSENCIAL? PORQUE?

Sim, pois somente com uma comunidade forte podemos propor mudanças maiores e demonstrar que há outras formas completas e complexas de organização que pode dar certo. Além de ser nosso próprio campo de experienciar outras formas de relação com as pessoas, com o ambiente, com outros ciclos e formas de viver.

3. COMO VOCÊ ENVOLVE O SEU PROJETO, AS SUAS PRODUÇÕES, NO SEU COTIDIANO, NA SUA VIDA?

Atualmente estou terminando a graduação em Obstetrícia, que é uma faculdade que forma parteiras diplomadas. Relutei muitos anos em entrar numa instituição universitária para obter conhecimento, mas hoje vejo que fiz a escolha certa para ter acesso maior (mesmo que institucionalizado, burocratizado e até mesmo algumas vezes defasado) ao universo dos cuidados em saúde das mulheres, não somente no período da gestação e parto. Essa foi uma das possíveis formas que encontrei em me aprofundar num assunto que gosto e que possa trazer à vida prática de minha comunidade, a minha própria vida e à de mulheres que tenho contato em meu trabalho, o questionamento sobre saúde, autocuidado, machismo, racismo, homofobia, direitos sexuais e reprodutivos, aborto, etc. Ou seja, meu projeto político não está separado em nada do que faço, não vejo separação entre a distro, meu trabalho com saúde das mulheres, o coletivo que faço parte (Ativismo ABC/Casa da Lagartixa Preta), projetos que eventualmente apoio/participo (por exemplo, o Para Mudar Tudo).
Procuro fazer minhas produções e as produções que distribuo na Distro (materiais de saúde feminina, zines, livros) chegarem para fora de nosso círculo de convivência também, para dialogar com o máximo de pessoas possíveis.

4. VOCÊ ACHA IMPORTANTE IR ALÉM DO PUNK/HARDCORE/ANARQUISMO E CHEGAR COM SUAS IDEIAS PARA OUTRAS PESSOAS?

Com absoluta certeza sim, e é justamente o que tento fazer. Reconheço que algumas questões ainda devam ser mais específicas no debate “interno” deste círculo, inclusive porque temos uma comunicação e interação muito ruim, muito fraca entre os grupos e espaços, que muitas vezes nem sabem da existência do outro, o que fazem, como vivem, suas propostas, suas práticas. Acredito que ambas coisas devem ser feitas ao mesmo tempo: trabalhar para expandir o debate e debater “entre nós” (com muitas aspas hehehe) sobre objetivos comuns que existam.

5. QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PLANOS?

Estou planejando lançar na Feira do Livro Feminista de Porto Alegre, em outubro/novembro, dois fanzines sobre saúde, finalizar os últimos retoques do meu site que tem uma biblioteca online, blog, relatos de experiências, loja online, que foi muito suado para fazer (sem a ajuda da querida Andreza da No Gods, não estaria pronto de jeito nenhum), e finalmente organizar algumas oficinas para oferecer em qualquer lugar que queira receber/trocar!
Ah, e acabar com o patriarcado.