Começamos uma série de entrevistas para o site da No Gods No Masters e para uma versão em papel também, como todo zine deve ser.
Pessoas, bandas, coletivos, espaços, estão recebendo as mesmas perguntas e pouco a pouco vamos divulgando suas respostas e tendo uma noção maior de como estamos pensando e conhecendo melhor uns aos outros. Se você tiver vontade de responder esta entrevista e tiver o que falar, escreve pra gente.
Que nossas palavras tomem nossos corpos e mentes.
A primeira entrevista é com Renato Disangelista, ele nos fala um pouco do que anda fazendo. Disangelista é baterista, tatuador, desenhista, um dos melhores escritores que já conhecemos, zineiro e um grande amigo. Vamos lá?
1. COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DAS SUAS PRODUÇÕES PARA A COMUNIDADE EM QUE VOCÊ ESTÁ INSERIDO?
Se produções forem os projetos nos quais me envolvo criando, planejando ou cooperando, tudo o que faço ou tenta compartilhar informações e ferramentas para a construção de uma sociedade mais livre ou tenta questionar e dividir as dúvidas e angustias com quem acho que pode se interessar. Nos comunicando e fazendo chamados podemos dar o primeiro passo para estarmos mais fortes frente a um mundo tão injusto: nos encontrar.
2. ACHA A EXISTÊNCIA DESTA COMUNIDADE ESSENCIAL? PORQUE?
Acho as comunidades de que participo (anarquismo, punk) importantes mas não “essenciais” no sentido restrito. Elas são importantes porque são meios, redes ou plataformas onde formas de vida libertárias (e não estilos de vida) podem surgir para nutrir nossas necessidades da vida enquanto nos encontramos e nos fortalecemos. Mas não acho que é útil ou estratégico nos apegar a um certo meio cultural ou fechado em si. Isso muitas vezes torna difícil o diálogo com outras pessoas na medida em que mantém conhecimentos, linguagens e privilégios dentro dos mesmos grupinhos – ou mesmo classes. Sem falar que além das sub-culturas urbanas de resistência, existe uma infinidade de culturas milenares de resistência, como os povos que habitam esse continente desde antes da invasão europeia. Prefiro ver as sub-culturas como a rachadura que dará origem a culturas inteiras quando esse império estiver para cair.
3. COMO VOCÊ ENVOLVE O SEU PROJETO, AS SUAS PRODUÇÕES, NO SEU COTIDIANO, NA SUA VIDA?
Tento sempre organizar minha vida para que meu cotidiano e minha política não sejam separadas. Desde a forma como vou morar com as pessoas, comer ou me relacionar, como vou ganhar a vida, como conseguir dinheiro ou qualquer recurso. Na prática isso significa viver com o mínimo possível para otimizar meus recursos e tempo para que me associe com outras pessoas interessadas em se organizar. É sempre um ciclo onde o fracasso faz parte do plano.
4. VOCE ACHA IMPORTANTE IR ALÉM DO PUNK/HARDCORE/ANARQUISMO E CHEGAR COM SUAS IDEIAS PARA OUTRAS PESSOAS?
Isso sim é essencial, como disse acima. Esses meios são o laboratório onde acumulamos experiências que, se não forem compartilhadas, vão para cova conosco ou vão acelerar nosso caminho pra ela.
5. QUAIS SÃO OS PROXIMOS PLANOS? ENVIE LINKS E FOTOS!
Por enquanto o que mais me ocupa é o projeto colaborativo Para Mudar Tudo que tá na corrida pra sua segunda edição brasileira, pedino doações e apoio para se manter gratuito e acessível. É um projeto que rompe fronteiras nacionais, culturais e das sub-culturas para falar com todo o mundo – quase que literalmente. A ideia é divulgar o anarquismo como ideia e a anarquia enquanto prática mais comum, acessível e viva do que muita gente pensa. Fico feliz de ter a sorte participar de um coletivo como esse.
Um vídeo seria o vídeo do próprio projeto, que não canso de recomendar e pedir para que compartilhem mais e mais: https://vimeo.com/111304958
Se fotos forem qualquer uma, indico essa galeria de fotos de um figura que esteve nas revoltas de 2013 em Taksin Square, na Turquia, de caráter libertário, mas também nas de Kiev, Ucrânia, onde fascistas tomaram conta das ruas. Ambas são belas, chocantes, inspiradoras e medonhas imagens de um futuro não distante: http://www.barbaroskayan.com/photography/
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