Punk, tatuadora, escritora, editora, zineira, anarquista, feminista, isto é um pouco de quem é Marina e sua vida rodeada e misturada com tantos projetos e realizações. Vamos se inspirar um pouco?

1. Como você vê a importância das suas produções para a comunidade em que você está inserida?

Bom, eu parto da ideia de que todas as produções, ações e intervenções das pessoas em uma comunidade tem uma grande importância pros rumos que essa mesma comunidade segue – rumos que nem sempre são bons, obviamente. Mas dentro disso, sempre procuro pensar em projetos que contribuam para mudanças, questionamentos que considero pertinentes e que sejam relevantes pras nossas lutas mais amplas – que não se resumem a comunidade em si. Acho que no fim das contas é essa soma de produções, criações e ideias fervilhando que são importantes pra manter vivas nossas comunidades de resistência. Então os projetos que me envolvo são uma contribuição dentro dessas iniciativas todas.
Metade da minha vida foi inteiramente voltada a criar e produzir coisas dentro da comunidade anarcopunk/anarquista. Atualmente tenho um projeto que chama Imprensa Marginal (uma editora e distro anarcopunk que também faz algumas oficinas de produção/encadernação de livros de tempos em tempos); tem a Anarco-Filmes Produções, um projeto de produção de documentários anarquistas e de divulgação das lutas sociais que sempre faz parcerias com outros projetos/coletivos de vídeo anarquista/popular/periférico; o Festival do Filme Anarquista e Punk de SP, que em dezembro vai ter a quarta edição; o site anarcopunk.org (que atualmente conta com participação de pessoas de cidades/estados/países diferentes); e fora isso sempre acabo me envolvendo em organização de atividades, debates, feiras de cultura punk, gigs, publicações, e outras conspirações não só anarcopunx/anarquistas/feministas/antifascistas, mas também com outros coletivos, movimentos, espaços e redes com quem rola um diálogo massa.

2. Acha a existência desta comunidade essencial? Porque?

Eu entendo e vivo a cena punk/anarquista como uma comunidade – onde interação, participação, diálogo, respeito, etc. são extremamente importantes. Mas muitas vezes acaba existindo nesta mesma cena uma lógica que tenta tornar isso tudo apenas um meio de consumo em que as pessoas assumem o papel de consumidores ou expectadores de algo – perdendo qualquer envolvimento mais real nos rumos e na construção coletiva dessa comunidade. Por isso acho importante que cada vez mais a gente caminhe para a formação e fortificação dessas comunidades e redes de contatos, ações e intercâmbios – que possam fortalecer formas de vida, convivência, relação e luta de uma perspectiva libertária, feminista, anti-autoritária e anti-capitalista. Passar a nos ver enquanto comunidade é algo essencial também para que possamos construir formas concretas de responsabilização e desconstrução de todos os valores sociais que questionamos. Se somos todxs parte de uma mesma comunidade, as ações e posicionamentos de cada uma das pessoas é essencial para os rumos que seguimos.

3. Como você envolve o seu projeto, as suas produções, no seu cotidiano, na sua vida?

Na verdade não consigo dividir os meus projetos e produções da vida cotidiana, porque essas duas coisas caminham inteiramente grudadas – são uma coisa só. Minha forma de viver, me organizar, trabalhar e me relacionar com as pessoas está totalmente ligada com as ideias políticas, culturais e projetos que tenho. Se busquei, por exemplo, uma forma de trabalhar e me sustentar que me dá autonomia em diversos sentidos (no meu caso a tatuagem), e me permite organizar por mim mesma o tempo que tenho no cotidiano pra poder levar adiante meus projetos punks/anarquistas, isso é um reflexo direto da forma como vejo o mundo e dos próprios projetos em si. Enfim… trabalho, relações, convivências, vida cotidiana, produções anarcopunks/anarquistas, coletivos, organizações, projetos, amizades, etc. são todos pontos que seguem interligados, influenciando uns aos outros todo o tempo.

4. Você acha importante ir além do punk/hardcore/anarquismo e chegar com suas ideias para outras pessoas?

Sim, acho que isso é essencial. Por mais confortável que seja criar uma “bolha” onde teoricamente as pessoas pensam, agem e tem gostos/posicionamentos mais parecidos – o que na prática a gente sabe que não é bem assim – é extremamente importante que a gente consiga romper essa “bolha” punk/anarquista e seguir para além. Se nos fechamos nessa bolha como um fim em si mesmo, todos os nossos questionamentos, iniciativas e lutas acabam igualmente sendo um fim em si mesmas, e bom… a ideia não é essa, né? E esse embate de visões de mundo é muito importante, nos leva pra rumos mais livres e diversos, afinal a ideia nunca foi criar um mundo unicamente punk ou anarquista, e sim provocar diálogos e construções coletivas mais amplas baseadas em liberdade, anti-autoritarismo, horizontalidade, etc.

5. Quais são os próximos planos? Envie-nos link de fotos e um video que acha legal.

Estou em um momento de rever muitas coisas na vida e nos projetos que faço parte, e esse processo tem sido bem importante pra mim, embora por outro lado deixe algumas coisas mais confusas e estranhas por um tempo. Mas bom, no momento estou filmando entrevistas pra um documentário que há anos estou organizando, sobre a história do movimento anarcopunk no Brasil dos anos 90 – que por ser um projeto muito grande vai acabar virando não um, mas vários pequenos documentários; conspirando novas publicações pra Imprensa Marginal, e outras ações coletivas.
Deixo aqui o link pro documentário sobre a Casa da Lagartixa Preta, que fiz em conjunto com a Do Morro Produções no ano passado:

E de fotos, o álbum da mana Elaine Campos, que sempre está por aí registrando as movidas feministas/anarquistas/punks com suas lentes – https://www.flickr.com/photos/elainecampos/albums